Reaquecendo as turbinas

 

Inverno. Muito frio. A Associação dos Empregados da empresa onde eu trabalhava programou um fim de semana num Hotel Fazenda no planalto serrano – Campos de Lages. Foram muitos casais - alguns com os filhos - todos colegas de trabalho. Entre eles, minha esposa e eu.

Quando o ônibus, muito confortável por sinal, chegou, foi uma festa.  A distribuição dos apartamentos foi uma algazarra. Todos queriam um que desse de fundos com um rio de pedras e com lindas cachoeiras que atravessava a propriedade. Conseguimos as chaves do último com essa maravilhosa característica.

Eram quase onze horas da manhã. Pegamos as bagagens no ônibus e fomos para nosso apartamento. A porta estava apenas encostada. Entramos. Eu na frente com uma sacola na mão, tipo “Kit-Frio” cheia de toucas, cachecóis, luvas, blusas de lã, meias grossas e até um cobertor que serviu para cobrir nossas pernas na viagem. As luzes acessas despertaram nossa atenção. No entanto, fomos entrando. No hall de entrada para o banheiro havia um grande espelho. Em frente dele uma mulher se maquilava. – O que está acontecendo? - Perguntou ela. Esse apartamento está ocupado! Constrangidos, pedimos desculpas pelo engano, sem muita explicação. Saímos e fomos reclamar na recepção do hotel.

Resolvido o contratempo – aí com muitas explicações por parte da administração -  conseguimos outro apartamento nas mesmas condições, de um casal que estava deixando o hotel naquele momento. Aguardamos mais uns 20 minutos até que a camareira o preparasse para nossa estada.

Fomos o último casal, entre nossos colegas, a sair para o almoço. Quando chegamos no restaurante, alguns estavam nos aperitivos, enquanto outros, principalmente as crianças, estavam almoçando. Não ficamos livres daquelas gozações dos amigos, pela nossa demora no apartamento.

O almoço, com deliciosas comidas caseiras apropriadas para o clima frio, não poderia ser melhor: macarronada, feijoada, costelinha de porco, carne assada em panela de ferro, galinha caipira ensopada, aipim, batata-doce caramelada, farofa de pinhão – uma delícia. Na churrasqueira, serviam costela bovina, carne de javali, lombinho de porco, paleta de ovelha, picanha, alcatra, lingüiçinha - que as crianças adoram tanto, contra-filé entre outros. Saladas? Faziam parte do cardápio, mas, poucos se serviam delas. Juro que não falarei da sobremesa de pudim de leite, arroz-doce, sagu, ambrosia e gelatina.

Após o almoço, ficamos - vários casais - proseando sentados em aconchegantes sofás numa sala com lareira, perto do restaurante. O proprietário do hotel veio nos servir um delicioso vinho de fabricação caseira. Aproveitando a oportunidade  nos convidou para um arrasta-pé que aconteceria à noite. 

Para completar a digestão, fizemos uma curta caminhada em volta do galpão principal, indo até as baias onde as crianças apreciavam lindos cavalos.

O frio aumentava. Voltamos para nossos apartamentos a fim de tirar uma soneca. Afinal mingúem é de ferro.

O clima pedia. Um casal juntinho, debaixo de um grosso cobertor, aquele barulhinho de cachoeira!. Não deu outra. O casal aquecido pelo amor, deu início ao exercício dos amantes. Estávamos exercitando o “papai-mamãe” ou “mamãe-papai”, não lembro bem, quando escutamos aquele barulho característico de chave girando na fechadura. Inicialmente pensamos ser do apartamento vizinho e contíguo ao nosso.

Eis que de repente, a porta se abriu deixando entrar um sopro gélido daquela tarde de inverno. Intrusos raios luminosos quebraram a penumbra de nosso ambiente de meia-luz. Apareceu uma moça - cheia de sacolas.

 Êpa! Êpa! Êpa! – gritei eu. Esse tá ocupado! A moça voltou toda envergonhada. Coitada. 

Nós, em função do susto e do choque térmico, tivemos que recomeçar tudo. E como em qualquer outro exercício físico, recomeçamos pelo alongamento.

 

Osli Cunha – maio de 2007.

 

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