O menino e o passarinho

João Gabriel é um menino de sete anos. Menino de coração bom. Tem um amor especial pela natureza – principalmente pelos bichinhos. Em casa, seus pais colocaram uma casinha pendurada em uma árvore do quintal para que ele pudesse tratar diariamente os passarinhos. Alpiste, painço e quirela fazem o banquete dos pardais, rolinhas, vira-bostas, tico-ticos e até dos sabiás e tiés quando João coloca frutas.

Na escola em que João Gabriel estuda com seu irmão Pedro Henrique de quatro anos, existe um pátio com muitas árvores onde as crianças brincam na hora do recreio.

Certo dia ao sair da escola, João Gabriel viu cair de uma das árvores um pequeno pássaro cuja espécie ele mesmo não identificou – apesar de já conhecer algumas. Era um filhote.

Ao aproximar-se deste notou que tinha machucado a perninha - estava suja de sangue - e da asa esquerda tinha perdido algumas penas. Teve pena.

Tomou na mão com todo cuidado o filhote e pensou: se eu o deixar aqui machucado, na certa ele vai morrer. Que fez João? Foi até a sala de brinquedos e pegou um baldinho de praia de seu irmão Pedro Henrique. Daqueles cuja tampa serve para peneirar areia - toda furadinha.

Com esse balde eu posso levar o coitadinho pra casa. Ele não foge e vai poder até respirar - pensou nosso João.

No ônibus escolar todos queriam ver o pequeno pássaro. No entanto, João segurava-o no colo com tanto cuidado que não deixava ninguém chegar perto.

Quando a condução escolar chegou na repartição onde os seus pais trabalham, João foi logo gritando: salvei um pássaro! Ele ia morrer e eu o salvei. Vou levar lá pra casa e colocá-lo na casinha. Vou cuidar dele.

A mãe dele – do menino, não a do pássaro – foi dizendo: não devias ter trazido, ele vai morrer. Melhor ter deixado que os pais dele cuidassem. Mas mãe – disse João: se deixasse ele lá na escola também morreria. Encontrei dois pássaros mortos atropelados perto da escola. Podem ser os pais dele. Tá bem, então leva – disse a mãe.

João não largava o baldinho. Levou à sala ao lado daquela em que sua mãe trabalhava e foi mostrando: tio Osli, olha só o que eu trouxe da escola! Cuidado, ele está machucado. Pode abrir a tampa do balde, ele não vai fugir – disse tio Osli! É um filhote de bico de lacre, falou. 

Quando o menino chegou em casa já era quase noite. Teve o cuidado de colocar água e comida na casinha de passarinho pendurada na árvore. Lá colocou o filhotinho de bico de lacre na esperança de que, na manhã seguinte, outro casal de pássaros o adotasse. 

Foi dormir com a certeza de ter praticado um ato bom naquele dia.

No dia seguinte, foi o primeiro a acordar. Já era dia. Correu até o quintal e viu que seu pequeno pássaro tinha voado para a morte. Estava caído no chão, inerte. Disse: nunca mais vou pegar um passarinho, a natureza sabe se virar. Ela cuida melhor do que eu.

                                               

Osli Cunha – Maio de 2007.

 

 

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